No filme "Que Horas Ela Volta?", protagonizado por Regina Casé, é realçada a pluralidade do português por meio de Val, nordestina que utiliza diversas gírias regionais. Paralelamente à ficção, a nação brasileira é composta por inúmeras culturas e, consequentemente, por uma vasta variação linguística, porém, devido a certos desvios da norma-padrão na oralidade, as pessoas que cometem esses tipos de "erros" tornam-se alvos de preconceito, evidenciado por meio de zombarias e atitudes soberbas. Portanto, apesar da nação brasileira ser formada por uma intensa miscigenação, muitos indivíduos ainda não reconhecem o quão ampla é a língua portuguesa, sendo necessária para o combate do preconceito linguístico a desconstrução da visão depreciativa dos diferentes trejeitos do idioma e o fim da comparação da fala cotidiana com o arquétipo.
Diante desse cenário, sujeitos os quais recorrem às gírias para a comunicação tendem a ser rotulados como inferiores em relação àqueles que possuem um conhecimento mais abastado das regras ortográficas. A esse respeito, o artigo 5° da Constituição Federal de 1988 assegura a liberdade de expressão, entretanto, pessoas com um vocabulário informal, geralmente as que se encontram em vulnerabilidade socioeconômica, tendem a sofrer preconceito pelo seu modo de falar, tendo seu direito comprometido. Assim, a diversidade linguística que devia ser enaltecida pela população, torna-se motivo de escárnio, gerando, desse modo, antipatia entre os cidadãos.
Outrossim, um dos principais fatores para o surgimento do prejulgamento é a idealização de como o português deve ser falado. Acerca disso, a escritora nigeriana, Chimamanda Ngozi, expõe em seu livro, "O Perigo de Uma História Única", a importância das narrativas plurais na história de um povo, sendo os diferentes tipos de linguagem, dessa maneira, manifestações de todo o histórico vivenciado pelo povo, fazendo que o menosprezo dessas ricas variações linguísticas desvalorize a identidade nacional. Logo, os diferentes sotaques e expressões regionais se mostram de igual relevância à norma culta, visto que ambos compõem o que atualmente é o linguajar da sociedade brasileira.
É urgente, em síntese, que medidas sejam tomadas a fim extinguir o preconceito linguístico do Brasil. À vista disso, o Ministério da Educação – órgão responsável pelo sistema educacional – deve, em conjunto com as escolas, promover debates nas instituições de ensino para a desconstrução da ideia de idioma homogêneo e contestar os pensamentos preconceituosos acerca das variações da língua portuguesa, de modo a manter o respeito à diversidade linguística e entender a relevância dela. Consequentemente, casos como o da personagem Val poderão ser evitados e a sociedade poderá viver de modo harmônico.