John Locke, filósofo inglês, destaca que é dever do Estado assegurar os direitos e bem-estar da população. Todavia, em virtude da negligência para com as tragédias ambientais serem uma realidade na sociedade brasileira, é válido reconhecer como o Poder Público não atua de modo efetivo e, pior, não exerce seu papel social, conforme os ideais de John Locke. Nessa lógica, é possível analisar o descaso e omissão estatal.
De acordo com Djamila Ribeiro, o primeiro passo para solucionar um problema é tirá-lo da invisibilidade. Entretanto, o descaso governamental contribui para a permanência do empecilho, visto que líderes públicos entram em ação apenas quando a tragédia está acontecendo, ao invés de criar verbas e medidas que previnam acidentes dessa natureza. À vista disso, as consequências despencam na população, que acaba ficando desamparada, tendendo a abandonarem suas casas, sofrerem risco de vida, chegando até mesmo a perdê-la.
Em janeiro de 2019, ocorreu o rompimento da barragem de Brumadinho, em Minas Gerais. "O rompimento e o deslizamento de lama resultante decorreram da liquefação estática dos rejeitos da barragem", diz documento de investigação técnica feita por líder de um painel de especialistas, Peter Robertson, PhD em geotecnia pela Universidade British Columbia, no Canadá. No entanto, a empresa Vale, responsável pela barragem de mineração, havia sido alertada sobre riscos e manutenção falha da mina, mas foi omitido da população na intenção de explorar os rejeitos ali contidos, levando assim, junto com a liquefação estática ao rompimento da mesma. Além da falta de monitoramento e fiscalização por parte do Poder Público também ter contribuído para o incidente. Consequentemente, 272 pessoas perderam suas vidas, 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos da mineração foram despejados na bacia do rio Paraopeba, afetando 18 municípios e 944 mil pessoas, um resultado apenas da negligência e ganância humana.
Em suma, cabe ao Ministério do Meio Ambiente, a fiscalização e o monitoramento de barragens por todo o país, criando também verbas e medidas preventivas para desastres como esse. Por meio da elaboração de mapas de risco, desenvolvimento de infraestrutura resiliente, como em Querala, cidade na Índia, onde casas resistentes a enchentes são construídas sobre pilares para permitir que a água das enchentes flua por baixo. Além da criação de sistemas de alerta precoce. Ao Ministério da Educação implantar palestras bimestrais de conscientização sobre riscos e treinamentos de como agir em caso de emergência. Ministradas por profissionais do Corpo de Bombeiros e da área da saúde, em parceria com escolas e universidades, capacitando os cidadãos a protegerem a si e aos outros, fortalecendo a resiliência comunitária frente a tragédias ambientais. Feito isso, ao presenciar um Estado eficiente e ativo, a ideologia de Locke poderá, certamente, ser cumprida e vista no país.