A Constituição brasileira, promulgada em 1988, afirma que todos os cidadãos são iguais perante à lei. Logo, é correto afirmar que a mesma está sendo violada, pois, no âmbito do sistema de adoção do Brasil, muitas crianças são tratadas diferentes devido sua raça, e muitos daqueles que querem adotar podem sofrer dificuldades ou até discriminações baseadas em sua sexualidade. Sob esse viés, torna-se necessária a discussão acerca dos fatores que prejudicam as políticas de adoção no país, como o descaso governamental e a lacuna educacional presente no sistema de adoção.

Segundo o Cadastro Nacional de Adoção, 66,1% das crianças presente no sistema são negras, porém cerca de 19,7% dos pretendentes só aceitam crianças brancas. Isso é reflexo do descaso governamental em corrigir tais preconceitos, a ação contínua de pessoas que recusam livremente uma criança pela sua cor, só dificulta um processo de adoção que, por si só, já é uma experiência delicada. O fato do campo "preferencia étnica" ainda estar presente no formulário de adoção, apoia a continuidade do racismo no sistema e impede que crianças e adolescentes negros sejam adotados. Além disso, o ato de adotar um criança deve ser baseado na real vontade dos pretendentes em se tornarem pais e no ato de acolher um indivíduo que não tem esse círculo familiar, não nas características físicas daqueles disponíveis para adoção.

Ademais, a lacuna educacional sustenta o preconceito com pretendentes pela sua sexualidade, casais homossexuais que desejam se tornar pais, geralmente, tem uma maior dificuldade. Visto que a homofobia alcança o processo de adoção e os mesmos podem ser acusados de serem inaptos para adotar só por serem homossexuais. O ato de discriminar potenciais pais baseados em sua orientação sexual, também, deve ser considerado e tratado como crime, já que a homofobia é dita como crime de ódio no Brasil. A falta de informação acerca desse assunto faz com que esse preconceito não seja reduzido, tornando esse pensamento seja contínuo e, consequentemente, tirando a oportunidade tanto de casais que realmente querem ter filhos, como de crianças que estão esperando para serem adotadas.

Portanto, medidas são necessárias para melhorar as políticas de adoção no Brasil. O Governo Federal, instituição de maior poder no país, deve diminuir o racismo presente dentro do sistema, por meio da retirada do campo de "preferência étnica" do formulário de adoção, gerando, assim, oportunidades iguais para todas as crianças e adolescentes, independente de sua raça. Fora isso, o Estado deve promover uma conscientização para aqueles responsáveis ou que trabalham dentro do processo de adoção acerca de discriminações baseadas na sexualidade dos pretendentes. Esta acontecerá por meio de campanhas e palestras dadas por casais homossexuais que já adotaram, contando sua experiência, a realidade atual de sua família e mostrando como o preconceito atrapalha nesse processo e o quanto é desnecessário. Assim haverá uma mudança de pensamento, começando de dentro do próprio sistema, acerca do assunto. Somente assim, o processo de adoção será mais igualitário e justo e a Constituição de 1988 deixará de ser violada.