A final do Campeonato Carioca, que ocorreu no dia primeiro de abril de dois mil e vinte e três, foi marcada, não pelo clássico confronto de futebol entre Fluminense e Flamengo, mas sim pelo trágico assassinato de um torcedor. De maneira análoga, esse é, apenas mais um de vários casos de violência nos estádios brasileiros. Diante disso, verifica-se que essa situação representa um desafio para a sociedade, visto que a normalização de atos violentos na sociedade e a negligência governamental, dificultam a resolução desse problema.

Primeiramente, é nítido que a hostilidade, presente na sociedade brasileira, se tornou algo naturalizado pela sociedade. A filósofa Hannah Arendt, em sua teoria sobre "Banalidade do Mal", afirma que o mal se tornou comum, a ponto de ser praticado na humanidade. Essa conjuntura pode ser observada nos diversos casos de violências nos estádios de futebol, uma vez que muitos indivíduos instigam e propagam atitudes hostis de maneira natural, sem qualquer receio ou empatia, o que, por sua vez, ocasiona brigas corporais, ofensas verbais e até mesmo em crimes de homicídios. Exemplo disso, foi o que ocorreu, em agosto do ano de dois mil e vinte e quatro, no qual torcedores do Corinthians agrediram os jogadores, - menores de idade -, do Palmeiras, após perderem a final do campeonato de futsal. Desse modo, é inegável que tais atitudes criminosas precisam ser controladas pelo poder público, para que a teoria de Arendt, seja, somente, uma ideia.

Ademais, vale destacar, o descaso estatal como um dos desafios no enfrentamento desse impasse, posto que o Estado não disponibiliza segurança suficiente aos torcedores brasileiros. Nessa ótica, segundo o filósofo contratualista John Locke, isso configura-se como um rompimento do "Contrato Social", já que o estado não cumpre com a sua função de garantir o bem-estar da nação, solucionando as questões de violência, - física ou verbal -, nos estádios brasileiros. A título de exemplo da omissão do Governo nesses casos de violência, podemos citar o levantamento sobre racismo feito pela Confederação de Futebol Brasileiro (CBF), juntamente com Observatório da Discriminação Racial, os quais declaram que no ano de dois mil e vinte e três, houve registro de cento e quatro denúncias referentes ao racismo dentro dos estádios de futebol e que, não houve punição. Nesse sentido, nota-se que o governo assume uma postura omissa, porque não cria nenhum tipo de medida que faça com quem pratica esse tipo de violência seja penalizado de forma grave. Fica evidente, portanto, ser necessário a atuação estatal de modo eficaz, para atenuar a problemática e, ao mesmo tempo, fazer valer a função de Estado defendida por Locke.

Logo, verifica-se a necessidade de estabelecer soluções que reduza, ou se encerre de vez, os casos de violência nos estádios de futebol no Brasil. Para isso, cabe ao Governo Federal, em parceria com o Ministério da Educação e o Ministério de Comunicações com os Ministérios da Educação e das Comunicações, auxiliar na conscientização da população brasileira sobre o tema em questão, por meio de palestras com indivíduos vítimas dessas ocasiões, nas escolas, - desde o ensino infantil, até o ensino médio -, a fim, de desnaturalizar ações violentas, assim, como, também, podem ser realizadas campanhas publicitárias nas redes sociais, divulgadas, inclusive por influenciadores e pelos próprios times de futebol falando sobre o assunto, visando trazer visibilidade sobre os conflitos que ocorrem nos estádios do país. Além disso, cabe, também ao Governo, em conjunto com o Ministério do Esporte, - órgão responsável por proporcionar políticas relacionadas ao esporte -, promover políticas que busquem acabar com a violência das torcidas, por meio de um cadastro individual com reconhecimento facial, para facilitar a identificação de torcedores que incitem ou causem atos violentos, extinguindo-os do futebol e punindo eles segundo as leis brasileiras. Somente, assim, será possível que casos como o ocorrido no clássico carioca não se repita no Brasil.