Em "O Alto da Barca do Inferno", Gil Vicente, o pai do teatro português, tece críticas ao comportamento vicioso do século XVI. Fora da alusão, ao analisar a atual conjuntura brasileira, evidencia-se que o Brasil do século XXI demonstra as mesmas conotações no que tange ao capacitismo, ainda presentes no país. Nesse sentido, percebe-se a necessidade de promover melhorias em razão do vigente problema, influenciado pela falta de debate acerca da problemática e pela omissão midiática.
Convém ressaltar, a princípio, que a falta de debate sobre o capacitismo é um fator determinante para o agravamento do cenário atual. O filósofo Foucault defende que, na sociedade pós-moderna, alguns temas são silenciados para que a estrutura do poder seja mantida. Nesse viés, cria-se uma lacuna no debate sobre a discriminação e exclusão das pessoas com deficiência, resultando no desconhecimento do tema por grande parte do corpo social. Esse desconhecimento impede a criação de políticas públicas efetivas que possam abordar os inúmeros efeitos adversos que o impasse produz.
Ademais, ressalta-se que a omissão midiática também se configura como um entrave na resolução da problemática. A filósofa brasileira Djamila Ribeiro aponta que é preciso tirar uma situação da invisibilidade para que soluções sejam promovidas. Contudo, há um silêncio instaurado sobre o atual impasse contemporâneo, resultando no distanciamento de possíveis soluções. A mídia, ao negligenciar o debate sobre o capacitismo, contribui para a perpetuação do problema, uma vez que pouco se fala sobre o tema em programas televisivos e redes sociais, deixando a população desinformada e apática.
Portanto, para que tal distanciamento deixe de fazer parte da realidade brasileira, medidas precisam ser tomadas. É de suma importância que empresas públicas e privadas forneçam às escolas obras literárias que auxiliem na compreensão do assunto, criando assim rodas de debate com o intuito de conscientizar a população. Além disso, deve-se promover a capacitação de professores, promovendo maior conhecimento para abordar a temática de forma eficaz e sensível, incentivando os alunos a refletirem sobre a questão e a buscarem soluções.
Além disso, torna-se necessário que a mídia e seus numerosos veículos de comunicação criem vídeos informativos e campanhas de conscientização utilizando "hashtags" e conteúdos que possam ser divulgados por influenciadores digitais, a fim de reverter a questão da omissão midiática. Com a visibilidade aumentada, a pressão social para a criação e implementação de políticas públicas se intensificará. Com efeito, com a implementação de tais medidas, o comportamento retratado por Gil Vicente pode se distanciar da realidade do país, promovendo uma sociedade mais justa e inclusiva.